Gerson Moura
Cientista Político
Em Mauá, o número de eleitores que optam por se abster ou
anular o voto cresce a cada eleição, levantando uma questão essencial: será que
as campanhas estão falhando em seu papel ou o eleitor perdeu a confiança?
Neste artigo, convido você a uma reflexão e uma provocação
sobre o papel das campanhas eleitorais e a necessidade de um alinhamento de
comunicação que coloque o eleitor no centro da estratégia, e não apenas os
adversários políticos. Após o término das eleições municipais, é essencial
iniciarmos uma análise profunda sobre o que está levando tantos eleitores a se
afastarem das urnas ou a anularem seus votos. Esse entendimento é fundamental
não só para definir estratégias futuras, mas também para observar se os
projetos apresentados realmente representam a maioria da população.
Em Mauá, nos últimos 20 anos, vimos um crescimento alarmante
na taxa de abstenções, votos nulos e brancos. Em 2004, esses números somavam
cerca de 52 mil eleitores. Em 2024, esse número saltou para 129 mil – um
aumento de 148% em apenas seis eleições municipais. Esse cenário nos leva a um
questionamento: a quem cabe a responsabilidade desse aumento? São as campanhas,
com suas estratégias de polarização, ou o eleitor, que se sente desmotivado e
descrente?
Historicamente, Mauá se destaca por campanhas acaloradas,
onde propostas e ideias acabam sendo abafadas por embates e ataques. Nessa
atmosfera de disputa intensa, o eleitor – que deveria ser o foco central – é
muitas vezes esquecido. Mauá se tornou conhecida por suas campanhas “fora do
comum”, onde acontecimentos inusitados, como prisões, impeachment e acusações
severas, dominam os holofotes. A questão que se impõe é: será que essa tática
constante de confronto e desgaste fortalece o interesse do eleitor em
participar? Há, talvez, um indicativo de que essa abordagem esteja afastando o
eleitor das urnas.
Em Recife, por exemplo, observamos uma realidade oposta. Em 2020,
a taxa de abstenção foi de 21%, com brancos e nulos somando 12%. Quando João
Campos (PSB) foi eleito no primeiro turno, a abstenção caiu para 19%, e os
brancos e nulos para 5%. Esses números nos mostram que um modelo de campanha
focado na comunicação direta e no compromisso com o eleitor pode ser uma chave
para reverter esse afastamento.
As últimas crises políticas, especialmente no âmbito
municipal, afetaram profundamente a credibilidade e a confiança da população na
política local. Contudo, a responsabilidade de reconquistar o eleitor e
trazê-lo para o centro da gestão pública é da própria classe política.
Transformar essa realidade é possível – mas exige uma mudança de postura. Uma
estratégia de reaproximação que reconstrua a confiança do eleitor e que o
valorize como o verdadeiro objetivo do processo eleitoral é a chave para
estancar essa crescente abstenção e os votos nulos.
Se Mauá deseja evitar que até 50% de sua população deixe de
depositar sua confiança nas urnas em 2028, será necessária uma reformulação
completa da maneira como as campanhas são conduzidas. Reconquistar o eleitor
significa tratar o cidadão com respeito e integridade, oferecendo um diálogo
honesto e promessas concretas. Afinal, o sucesso da política e o fortalecimento
da democracia em Mauá exigem uma escolha clara e definitiva: as campanhas devem
focar menos nos adversários e mais em conectar-se com o eleitor.
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